segunda-feira, 30 de outubro de 2017

O Porto de Macau: artigo de 1925

Estruturas que sobreviveram até ao século XXI
"(…) Ora é da construção do porto de Macau, em vias de acabamento, que nos falaram há dias as comunicações telegráficas. Há 41 anos que foi elaborado pelo engenheiro Adolfo Loureiro o primeiro projecto para a construção do porto, mas foi julgado grandioso de mais para as posses financeiras da província. A esse estudo seguiram-se outros até que o de general Castelo Branco foi definitivamente aprovado iniciando-se os trabalhos em 1917 com as receitas já então muito grandes, cobradas anualmente pelo governo.
Este projecto visava especialmente a construção do chamado Porto Interior, do este da peninsula, olhando portanto a ilha da Lapa e foi alterado, completando-se com novos traçados, de acordo com as exigências modernas.
Em 1919, resolveu-se que o porto, para navios de grande calado, seria feito na costa leste da península – na “ráda” – e o acordo diplomático, feito com os chinezes em 1920, garantiu a tranquila execução do grandioso plano de engenharia que tornará Macau, aos seus antigos tempos de esplendor comercial.Comecemos pelo istmo onde se abrem as velhas Portas do Cerco.
Seguindo a costa do lado do Porto Interior temos: docas, varadouro e estaleiros, para embarcações de pequeno porte. Um canal, que atravessa o istmo ao norte, faz a ligação entre o Porto Interior e o Porto de Areia Preta, destinado a navios de pequena tonelagem e dispondo de uma doca seca. Um canal permite a comunicação deste Porto com o Porto artificial, para navios de grande calado.
Ao longo do caes verá o leitor o Bairro Industrial e operário, o Arsenal, o Depósito de Carvão, os Armazéns e caes acostáveis. Continuando a seguir a carta encontramos, sucessivamente, as docas n. 5 para vapores de carreira; n. 4; n.3 para juncos; n. 2 para embarcações de recreio e para as da capitania; n.1 para hidroaviões, cujo parque está situado entre esta doca e a doca n.2.
Longos molhes, cuidados e fortemente construídos, defendem dos impetos do mar, quando revolto, os ancoradouros dos navios. (…)
Para que se possa fazer ideia da atividade com que tem caminhado as obras, bastará saber-se que os trabalhos executados pela Missão de Melhoramentos e pela Direcção das Obras dos Portos, desde Abril de 1919 ao fim de 1921, foram:
-Dragagens de Patane, ao norte da Ilha Verde, Macau Siac, Taipa, do Porto Interior (para conservação) num volume total de 1 milhão de metros cúbicos;
- Aterros correspondentes, em cerca de 50 hectares;
-Defezas dos aterros, com môtas, numa extensão total (incluindo as praias artificiaes, para varadouros) de 4 quilómetros.
- Obras hidraulicas marginais numa extensão total de 1500 metros;
- Molhes de abrigo (em enrocamentos) na extensão total de 1.100 metros; isto alem da organização e instalação dos serviços, elaboração do plano geral e dos projectos, os respectivos desenhos…
Artigo não assinado intitulado "O Porto de Macau” publicado na revista "Portugal", nº 46 de 30.6.1925
Nota: A imagem acima é da chamada Doca dos Holandeses

domingo, 29 de outubro de 2017

O homem do riquexó e os juncos na rada

Nesta foto montagem a partir de uma fotografia dos anos 60 - onde o condutor do riquexó observa os juncos na rada de Macau na zona da Av. da República - incluí um texto sobre os juncos da autoria do comandante João Manuel Nobre de Carvalho elaborado para uma emissão filatélica dos CTT de Macau em 1985.
Nota: clicar na imagem para ver em tamanho maior

sábado, 28 de outubro de 2017

Clipping sobre apresentação da Biografia de Manuel da Silva Mendes em Macau


Fotografias da apresentação da Biografia de Manuel da Silva Mendes (1867-1931) em Macau feita pelo meu amigo João Guedes (autor do prefácio) na Academia Jao Tsung-I.
Fotos:
Diana Soeiro. Organização: Instituto Cultural Macau e Casa de Portugal em Macau.



Algumas das notícias publicadas após o lançamento em Macau da Biografia de Manuel da Silva Mendes (1867-1931) a 26 de Outubro último. Acresce ainda uma entrevista à TDM-Rádio Macau e um destaque no site da Revista Macau.

Na edição de 27 de Outubro o Ponto Final titula "Lançada em Macau primeira biografia de Manuel da Silva Mendes".
A primeira biografia de Manuel da Silva Mendes (1867-1931) foi lançada esta quinta-feira em Macau, reavivando uma figura “esquecida”, apesar de ser “um dos intelectuais mais relevantes da história de Macau na primeira metade do século XX”.
De “espírito multifacetado”, Manuel da Silva Mendes foi professor, advogado e juiz, e um “apaixonado pela civilização e cultura chinesa”, que publicou vários artigos e livros, tornando-se “um reputado sinólogo e importante coleccionador de objectos de arte”, descreve o Instituto Cultural de Macau (ICM), que co-edita a obra, recentemente lançada em Portugal.
Esta biografia surge pelos 150 anos do nascimento de Manuel da Silva Mendes, uma figura que, “inexplicavelmente, tem sido esquecida e que personifica, como poucos, a génese de Macau – a fusão entre o Oriente e o Ocidente”, realça o autor, João Botas, na introdução da obra, cuja apresentação em Macau ficou a cargo do crítico literário João Guedes, que assina o prefácio.
A biografia de Manuel da Silva Mendes, cuja vida se dividiu entre Portugal (onde nasceu) e Macau (onde morreu) desdobra-se em capítulos dedicados ao “homem”, ao “professor”, ao “político”, ao “advogado e juiz”, ao “sinólogo e coleccionador” e ao “escritor e cronista”, reunindo ainda documentos, uma selecção de textos, uma cronologia e memórias em imagens de homem que tem o nome gravado na toponímia de Macau.
Para João Guedes, o livro oferece conhecimento sobre uma figura que “devido à própria personalidade e a preconceitos políticos persistentes” foi esquecida, sendo “visto como um professor de liceu, que tinha umas opiniões sobre a educação e, na generalidade, um mau feitio”, quando “é muito mais do que isso”.
“Era um intelectual de grande profundidade, um homem que em Macau tem opiniões importantíssimas e muito de vanguarda sobre a Educação – sobre as quais passaram sempre uma esponja por cima”, aponta o também investigador da história de Macau.
“Era um tipo que diziam irascível, [mas] ele era uma mentalidade superior e, de maneira que, ficava – suponho eu – irritado com a tacanhez deste pequeno burgo”, e, também por causa disso, Silva Mendes “não se dava com os portugueses”, sendo, aliás, conhecido que “as relações dele com Camilo Pessanha não eram boas”, diz João Guedes, entre risos.
No entanto, “dava-se com os maiores expoentes da literatura, da arte e da política da China”, algo até “escondido” do conhecimento, arrisca dizer João Guedes, falando ainda das relações que Manuel da Silva Mendes mantinha com anarquistas chineses, como Liu Shifu (1884-1915), considerado o maior ideólogo do anarquismo da China, ou Chen Jiongming (1878-1933), um general que “funda um partido, uma dissidência, à esquerda, do Kuomitang [então no poder], ainda hoje um dos poucos [oficialmente] reconhecidos na China”.
Das diversas facetas, o crítico literário destaca nomeadamente o “conhecedor da arte chinesa, principalmente da cerâmica Shek Wan [designação em cantonense de uma pequena aldeia de Foshan, entre Macau e Cantão] que, curiosamente, é a que serve de inspiração a Bordalo Pinheiro em Portugal”: “A louça das Caldas da Rainha é baseada na de Shek Wan” relativamente à qual “o Silva Mendes tinha um conhecimento muito vasto” e mais do que isso: “Ele tinha “peças importantíssimas que constituíam o núcleo central do há muito extinto Museu Luís de Camões”, cujo espólio, incluindo essa colecção, foi herdado pelo Museu de Arte de Macau.
“Esta é a primeira biografia”, porque, apesar de Gonzaga Gomes ter reunido uma colectânea de escritos de Manuel da Silva Mendes, “nunca tinha havido uma iniciativa do género”, sublinha João Guedes, falando mesmo “numa pedrada no charco” num “território onde as biografias escasseiam muito”.
Notícia da agência Lusa publicada também no Diário de Notícias e Notícias de Coimbra


(...) Hoje foi também lançada em Macau a primeira biografia de Manuel da Silva Mendes (1867-1931), que reaviva uma figura "esquecida", apesar de ser "um dos intelectuais mais relevantes da história de Macau, na primeira metade do século XX". De "espírito multifacetado", Manuel da Silva Mendes foi professor, advogado e juiz, e um "apaixonado pela civilização e cultura chinesa", publicou vários artigos e livros, e tornou-se "um reputado sinólogo e importante colecionador de objetos de arte", descreve o Instituto Cultural de Macau (ICM), que coedita a obra, recentemente lançada em Portugal, da autoria de João Botas. A biografia de Silva Mendes, cuja vida se dividiu entre Portugal (onde nasceu) e Macau (onde morreu) desdobra-se em capítulos dedicados ao "homem", ao "professor", ao "político", ao "advogado e juiz", ao "sinólogo e colecionador" e ao "escritor e cronista", reunindo ainda documentos, uma seleção de textos, uma cronologia e memórias em imagens de um homem que tem o nome gravado na toponímia de Macau. (...)
No Jornal Tribuna de Macau o lançamento teve direito a 'chamada de capa' com o título "Silva Mendes uma figura 'branqueada' na vanguarda da educação". Inês Almeida assina o artigo:
"Foram ontem apresentadas as obras “Contributos para o Estudo da Literatura de Macau – Trinta Autores de Língua Portuguesa”, “Clepsidra” e “Biografia de Manuel da Silva Mendes 1867-1931”. João Guedes, responsável pelo prefácio da obra sobre Silva Mendes, fala de uma figura “com opiniões importantíssimas” e uma mentalidade superior irritada “com a tacanhez” do “pequeno burgo” que era Macau
Após ter sido lançado em Lisboa, foi apresentada em Macau a obra “Biografia de Manuel da Silva Mendes 1867-1931” da autoria de João Botas, a par do livro “Contributos para o Estudo da Literatura de Macau – Trinta Autores de Língua Portuguesa” e de uma edição bilingue produzida a pensar no mercado da China Continental da “Clepsidra” de Camilo Pessanha.
João Guedes, autor do prefácio da obra dedicada a Silva Mendes, sublinha que o livro “começa por oferecer o conhecimento de uma figura de Macau que, devido à sua própria personalidade e a preconceitos políticos persistentes foi sempre branqueada”. “É o homem que é visto como professor de liceu, que tinha opiniões sobre a educação e, em generalidade, um mau feitio”.
Por norma, segundo defende, “fica por aí” o conhecimento sobre esta personalidade, no entanto, “ele era muito mais do que isso”. “Ele era um intelectual de grande profundidade, um homem com opiniões importantíssimas e de vanguarda sobre a educação e passaram-lhe uma esponja por cima, diziam que era irascível, tinha uma mentalidade superior, de maneira que ficava irritado com a tacanhez deste pequeno burgo que é Macau”.
Manuel da Silva Mendes “não se dava com os portugueses por causa disso”. Em vez disso, “dava-se com os maiores expoentes da literatura, arte e da política da China”. “Isso foi sempre uma coisa completamente escondida do conhecimento. Era um anarquista e assim continuou. Dava-se com anarquistas chineses como Liu Shifu, Chen Jiongming, o ‘senhor da guerra’, que era general e continuava a dizer que era anarquista”. “Ele [Chen Jiongming] é o homem que funda um partido, uma dissidência do kuomitang, à esquerda, e é um partido que ainda hoje é reconhecido”, explicou.
Para João Guedes, esta primeira biografia oficial de Silva Mendes é “uma pedrada no charco pelo conhecimento que oferece desta personalidade completamente invulgar na história de Macau”. (...)
Silva Mendes destacou-se também pelas suas ideias ao nível da educação, pensamentos que actualmente nada têm de desconhecido. Mas, nota o jornalista e investigador, “ele era muito avançado nesse aspecto e era professor de liceu, portanto, chega a Macau e apesar de ser um bocadinho melhor que em Portugal, porque havia uma certa abertura provocada pela proximidade de Hong Kong, há um espartilho pesado e ele, com uma série de artigos no jornal, contribui para quebrar essas rotinas na educação”.
Em Macau, refere João Guedes, Silva Mendes deixou ainda uma marca importante: a sua casa, que “reflecte bem o estilo do proprietário”.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

O Culto dos Antepassados

A propósito do Culto dos Antepassados que por estes dias se comemora
mostro dois postais (anos 80) de templos muito procurados nesta altura. 
Em cima o templo de Kun Iam Tong e em baixo o templo de A-Ma.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

De Macau para a Hungria: 1905

Frente e verso do postal "Inner Harbor" enviado em Janeiro de 1905 de Macau para a Hungria.
 
O postal de cima é uma edição da Graça & Co. de Hong Kong; o de baixo, muito parecido e da mesma época., é de uma outra empresa, também de Hong Kong, a M. Sternberg.
PS: Ocorreu-me publicar este post no dia da apresentação da Biografia de Manuel da Silva Mendes em Macau, já que foi esta a paisagem de Macau que Silva Mendes encontrou quando chegou a Macau em 1901.



quarta-feira, 25 de outubro de 2017

MSM por Miguel Chinopa e Eric Fok


A Biografia de Manuel da Silva Mendes (1867-1931) inclui mais de 200 imagens, incluindo fotografias da época, dezenas de documentos inéditos e ilustrações da autoria de Adalberto Tenreiro, António Conceição Júnior, Charles Chauderlot, Eric Fok (imagem abaixo) e Miguel Chinopa (imagem acima), que assina também o design gráfico do livro.
Eric e Miguel basearam-se em dois registos fotográficos distintos.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Biografia de Manuel da Silva Mendes apresentada em Macau

Apresentação da Biografia de Manuel da Silva Mendes 1867-1931, por João Guedes, o autor do prefácio, será esta quinta-feira, 26 Outubro, 18h30, em Macau.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Citações sobre MSM no dia do aniversário

Manuel da Silva Mendes nasceu às quatro horas da tarde do dia 23 de Outubro de 1867 sendo baptizado dois dias depois. Os livros de registo de baptismo da paróquia de S. Miguel das Aves assim o atestam. 
“Aos vinte e cinco dias do mês de Outubro do ano de mil oitocentos e sessenta e sete nesta Igreja Paroquial de São Miguel das Aves, Concelho de Vila Nova de Famalicão e Diocese de Braga, baptizei solenemente com imposição dos santos óleos um indivíduo do sexo masculino a quem dei o nome de Manuel, e que nasceu nesta freguesia às quatro horas da tarde do dia vinte e três do dito mês e ano, filho legítimo primeiro deste nome de José da Silva Mendes, tamanqueiro, e de Rosa da Silva Pinheiro, ele natural da freguesia de Romão, anexa a esta de São Miguel das Aves, ela da freguesia de Delães, do dito Concelho e Diocese, recebidos nesta freguesia paroquianos desta freguesia, moradores no lugar de Romão, neto paterno de José da Silva Mendes, e de Maria Rosa de Paiva, ambos naturais desta freguesia, materno de Manuel António da Silva Pinheiro e de Joaquina Maria de Azevedo, ambos naturais da freguesia de Delães. Foi padrinho eu reverendo baptizante Manuel Joaquim da Mota, Abade desta freguesia, e madrinha Joaquina Maria de Azevedo, casada, vendeira da freguesia de Delães, os quais todos sei serem os próprios. E para constar lavrei em duplicado este assento, que depois de ser lido e conferido perante os padrinhos, o padrinho assinou, e a madrinha não assinou por não saber escrever.” 

Farol da Guia e em baixo parte da residência de MSM: década 1960


Citações
“Observador arguto, crítico contundente, reverente apaixonado de arte chinesa, cultor e poeta do taoísmo. Um perfil de homem público e de letras, injusta e inteiramente desconhecido pelos portugueses de Portugal, mas que está no coração e admiração dos macaenses, muito mais, e a grande distância, do que Wenceslau de Moraes ou Camilo Pessanha”.
Henrique de Senna Fernandes

“Uma personalidade invulgar que atraiu muitos amigos e admiradores, e certamente outros tantos inimigos pois não era de molde a agradar a todos.”
Graciete Batalha

“Espírito cáustico e sardonicamente crítico do fino observador”.

Luís Gonzaga Gomes

“Escondia uma alma de artista num corpo estruturalmente plebeu, temperando a sua prosa, sempre correcta, com humorismo, que chega a tocar as raias da irreverência.”
Francisco de Carvalho e Rêgo

“Os seus conhecimentos de arte chinesa granjearam-lhe a reputação de ser o europeu que, na Costa da China, mais sabia do assunto. As suas colecções justificam a fama que teve.”

António conceição Júnior

“Profundo conhecedor da história chinesa, entusiasta admirador da arte que veio encontrar no Oriente, manifestou de forma preferencial o fascínio que sobre ele exerceu tudo quanto tivesse ligado ao fabrico da cerâmica. Teve a noção do seu valor estético. Coleccionou pacientemente e foi um pioneiro.”
Beatriz Basto da Silva


in Biografia de Manuel da Silva Mendes 1867-1931. Edição de autor + ICM, Portugal, 2017

domingo, 22 de outubro de 2017

Palanchica





Palanchica era um pequeno baluarte ou fortificação que existiu no cimo da colina do Patane. Rodrigo Marim Chaves fez esta descrição no livro "O Renascimento do Município Macaense":
"Perto da ermida (de S. António) construiu-se uma tranqueira, pequena fortificação levantada para o que desse e viesse e equipada com algumas peças com que as naus do Japão a dotaram. Este baluarte foi por muito tempo conhecido pelo qualificativo de Palanchica, da qual é descendente a actual travessa da Palanchica que liga hoje a praça Luís de Camões, por um lado, com a rua dos Colonos, indo esta terminar no Tarrafeiro, e por outro lado, e nas alturas da escada do Papel, com a travessa do Patane, à qual se seguem a calçada das sortes, rua da Palmeira e largo do Pagode".

Em "História da Arquitectura em Macau", Maria de Lourdes Rodrigues Costa escreve: "Na zona do Patane existiu um forte, do Patane ou Palanchica, não se conhecendo a data da sua construção, supondo-se que tenha sido em 1625. Encontrava-se integrado na muralha que ligava o Porto Interior ao Monte, com a finalidade de proteger a cidade de uma possível invasão da China. Era formado por três plataformas, tendo cada uma delas uma peça de artilharia, conforme se vê em desenhos da época. Foi demolido por volta de 1640, com todo o pano de muralha a que estava ligado."

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Instrucção Ministrada no Lyceu Nacional de Macau: 1905


A 28 de Março de 1905 o Boletim Oficial teve um suplemento onde se publicaram uma série de elementos estatísticos relativos ao mês de Janeiro desse ano. Entre os diversos mapas apresentados está o "Mapa estatístico da instrução ministrada no Lyceu Nacional de Macau" assinado por Manuel da Silva Mendes, reitor interino e professor. Nessa altura o Liceu era composto por três classes e um total de 19 alunos.
clicar nas imagens para ver em tamanho maior


quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Tarrafeiro: mercado, rua e beco

Em cima, duas imagens de Pedro Pinto, do pórtico que resta do antigo mercado público “Kông Yêk” (公益街市) , em português, Mercado do Tarrafeiro.
M. V. Basílio diz que "é o único pórtico que resta do extinto Mercado do Tarrafeiro, em chinês, Kông Yek Kai Si, que era delimitado pela Rua de Cinco de Outubro, pelas Travessas das Galinholas, do Alpendre e do Muro. Ainda tive a oportunidade de ver, há cerca de 20 anos, um pórtico igual na Travessa do Muro, ostentando os caracteres chineses Kông Yêk Kai Si. Infelizmente, aquando da construção de um novo prédio nessa Travessa, aquele pórtico foi demolido. Em baixo, uma foto extraída do livro “Coisas de Macau”, de Álvaro de Melo Machado, em que se pode ver os caracteres chineses公益街市num dos pórticos."

Tarrafeiro é o nome por que se costuma designar a parte da cidade de Macau situada no sopé que foi dum morro, no alto do qual hoje se encontra a igreja de Santo António.
A Rua do Tarrafeiro foi oficialmente 'baptizada' em 1869. A origem do termo “tarrafeiro” remete para o pescador que utilizava uma “tarrafa” - rede de pesca circular, de malha fina, com pesos na periferia e um cabo fino no centro, pelo qual é puxada - muito popular em Macau. Com o tempo e o desenvolvimento social, a Rua do Tarrafeiro acabou por ficar rodeada de urbanizações, em vez da beira-mar com as tradicionais tarrafas.
Sugestão de leitura: "O Tarrafeiro" in Curiosidades de Macau Antiga", de Luís Gonzaga Gomes, edição "Notícias de Macau" em 1952.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

"Porta Cerco, the gate dividing Portuguese and Chinese territory"

Nos primeiros anos de 1900, duas empresas de Hong Kong, a M. Sternberg e a Graça & Co. publicaram dois postais ilustrados alusivos à Porta do Cerco que têm uma particularidade: são iguais. Na imagem surge parte da tripulação da canhoneira Zaire que chegou a Macau a 12 de Agosto de 1900 na sequência da Revolta dos Boxers, evento ocorrido no norte da China meses antes. O Corpo Expedicionário era "constituído por 14 oficiais e 368 praças de pré, uma Companhia de Calçadores 3, uma Bataria de Artilharia 2, elementos do serviço de saúde e administrativos.”
"Porta Cerco, the gate dividing Portuguese and Chinese territory. Macao."
Uma legenda com um erro: "Porta Carvo"
Atente-se na diferença de cores usadas pela empresa de M. Sternberg (acima) e a de Graça & Co. (abaixo)
A "Zaire" (1884-1916)
Na edição de Março de 1902 da revista Serões, J. F. Marques Pereira, assina um artigo - Portugal e a China ante a questão de Macau - ilustrado com "15 gravuras, cópia de photographias" de P. Marinho, onde aborda esta problemática. No texto introdutório escreve: Os recentes acontecimentos politicos da China, a revolta dos boxers, a intervenção das potencias, a penetração d´estas no isolado imperio asiatico, a lucta das ambições e dos interesses, teem chamado as attenções geraes para o extremo oriente e despertado natural curiosidade. Depois da partilha da Africa, veio a pretenção de dividir tambem a Asia. (...)

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Imagens do Ultramar: carteiras de fósforos


Numa colecção de 20 carteiras de fósforos fabricadas pela Sociedade Nacional de Fósforos - série "Imagens do Ultramar" - na década de 1970, Macau surge nos números 11 e 12 com duas imagens: uma do casino flutuante (legenda Porto Interior) e outra do hotel Lisboa (legenda Um hotel). 

Série: Angola (n.º 1 a 5); Cabo Verde (n.º 6 e 7); Guiné (n.º 8 e 9); Índia (n.º 10); Macau (n.º 11 e 12); Moçambique (n.º 13 a 17); S. Tomé e Príncipe (n.º 18 e 19); Timor (n.º 20).
             fósforos



domingo, 15 de outubro de 2017

"História de Macau" por Manuel da Silva Mendes (1915)

"Não é raro que venham a Macau homens de sciência, geralmente comissionados por associações literárias ou científicas, no intuito de colher aqui elementos para estudos históricos ou de crítica. Os japoneses, os ingleses, os franceses, os americanos principalmente são os que se interessam mais por esses estudos. É natural que Macau, que foi por muitos anos o único porto na China aberto aos estrangeiros, seja considerado como uma excelente fonte de informações para a história dos tempos mais antigos dos europeus no Extremo-Oriente. Era por Macau que penetravam na China os embaixadores, os missionários, os negociantes, os exploradores. Em Macau foram impressos grande número de livros sobre a língua e a literatura chinesas, sobre os trabalhos das missões religiosas e políticas, sobre o movimento comercial, etc. A igreja de S. Paulo ou o que resta dela, os conventos de Santa Clara e S. Francisco, as muralhas, as fortalezas, a Horta da Companhia e tantos outros restos de antigos tempos ainda hoje ahi estão atestando que Macau foi um grande centro religioso, militar, comercial e social no Extremo-Oriente. Tudo o que eram relações de europeus ou americanos com a China, com o Japão, com as Filipinas, com Timor, com Sião e ainda em parte com a península de Malaca e com a índia, partia de Macau ou aqui vinha ter.
Deve-se afigurar, pois, a todos os estudiosos de coisas antigas, Macau como uma mina em que os materiais desejados sejam porventura de extracção difícil, mas abundantes e ricos. Foi aqui, terra de conventos de frades e de l'reir,terra de muitos homens e poucas mulheres.terra do aventureiros e de piratas, que inexaurível mina para romancistas!
Pois, meus senhores, podia Dante ter inscrito à entrada de Macau o «voi che entrate, lasciate ogni speranza» — porque do muito, do muitíssimo que podia e devia haver, não ha quási nada! Desapareceu quási tudo, e o que resta, está para aí abandonado.
Documentos escritos houve-os inúmeros; mas nunca se coligiram, nunca se seleccionaram, nunca se catalogaram, nunca se fez o devido caso deles. Andaram de armário para armário, de repartição para repartição, de mão para mão, como coisas velhas, bolorentas, inúteis. Outros, o maior número, foram queimados ou comeram-nos os vermes ou levaram-nos os tufões. E hoje, se se quiser fazer a história de Macau em face de documentos, é isso impossível, porque não existem.
Parece incrível, mas é verdade: uma colónia como Macau não tem história escrita — uma história completa. O sr. Montalto de Jesus publicou ha anos um volume em inglês que intitulou Historic Macao; esta obra, porem, conquanto útil e de merecimento, está longe de poder ser considerada como uma história desta colónia.
O Leal Senado de Macau, instituição quási tão antiga como a colónia, e que tem sempre exercido um papel preponderante na vida local, não tem história; nunca se lembrou de a mandar escrever. O facto não se justifica por falta de dinheiro, porque o Leal Senado tem-no tido bastante para isso. Não ha muitos anos dispendeu alguns milhares de patacas para ocupar os lazeres de dois oficiais do exército sob o pretexto de levantarem uma (levantada) carta de Macau...
A Santa Casa da Misericórdia, outra instituição com séculos de existência, também não têm história escrita. Existem no seu cartório uns livros velhos cie quási nenhuma importância ; os que tinham valor desapareceram. Não consta, de resto, que alguma vez tentasse pôr em letra redonda o que tem sido e o que tem feito durante a sua longa existência esta instituição. O Seminário, outra velha instituição, e o Bispado, não menos antigo, estão nas mesmas condições. Alguns documentos existem, velhos, poeirentos, meio comidos, por gavetas e armários; e é tudo. É uma pena; dezorganisação entrou connosco e não vemos sinais de ressurgimento. E é ao mesmo tempo uma vergonha que estrangeiros venham aqui frequentemente em viagem de estudo e tenham de partir desapontados. Ainda ha poucos dias isso aconteceu com um americano que aqui veio comissionado por uma associação scientífica de Washington.
Ainda se poderia fazer alguma coisa. Restam dos muitos que houve, vários maços de documentos no Leal Senado, na Santa Casa da Misericórdia, no Seminário, na Sé e em algumas repartições do Estado, que deveriam ser estudados, seleccionados, catalogados e impressos. Porque se não faz ao menos isso?
Dever-se-hia ir muito mais longe. Alem desses manuscritos, ha livros, opúsculos, revistas e outras publicações com notas interessantes para a história de Macau. Dever-se-hiam coligir e, ao mesmo tempo, dever-se-hia organizar um índice desenvolvido com referência a tudo quanto a colecção contivesse sobre o assunto e merecesse interesse ou importância.
Era assim que um dia, juntos que fossem todos estes elementos, alguém poderia abalançar-se a escrever a história de Macau. Não é de esperar que a iniciativa particular se lance em semelhante empresa; tudo isso exige muito tempo, muito estudo, muito trabalho, muitas despesas. Deverá o Estado, sendo como é o assunto de interesse público, empreende-lo, incumbindo pessoa ou pessoas competentes de o levar a termo; e só assim julgamos que é possível dar-lhe boa solução."
in O Progresso, Semanário Independente de Macau a 6 de junho de 1915.
tb publicado no Boletim da Segunda Classe da Academias das Sciencias de Lisboa. Vol. X 1915/1916

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Igreja do Mosteiro de S. Francisco

A foto acima é de 1844 e da autoria de Jules Itier. É muito provavelmente a única que testemunha o que foi a igreja do mosteiro de S. Francisco. Tirando isso, apenas os desenhos de George Chinnery permitem perceber o que foi este mosteiro fundado em 1579 e desaparecido em 1871.
Especialistas como Hugo Daniel da Silva Barreira destacam as "peculiaridades da cornija decorada e levemente mistilínea, formada por volutas e adornada por pequenos pináculos. Notem-se os vão ovalados do alçado, bem como as possíveis capelas ou dependências que acompanham a mesma parede" e ainda "a galeria frontal, um exemplo de galilé muito frequente nas igrejas da Ordem e a única (frontal) na arquitectura religiosa do território."
Desenho de G. Chinnery ca. 1830
No relato coevo de Frei Paulo da Trindade fica-se a conhecer o orago: "O convento que temos na cidade de Macau se fundou com título de Nossa Senhora dos Anjos da Porciúncula no ano de 1579".
Atentemos pois num excerto do relato do frei que pode ser lido na obra "Conquista Espiritual do Oriente. III Parte". Edição do Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1967.
"(...) relataremos aqui um lastimoso caso que lá sucedeu em o ano de 1611, que foi o incêndio daquele convento, em que se queimou e tornou em cinza tudo quanto nele havia. E foi o caso que tendo os padres feito um presépio na festa de Natal para mais mover o povo à devoção daquele mistério, sem se saber como, se ateou o fogo nele e foi lavrando de feição que, sem lhe poderem dar remédio por mais que nisso se trabalhou, tomou fogo a capela do presépio e dali a igreja toda e depois a torre onde estava todo o bem do convento, e foi logo ateando nos dormitórios. (…) Mas é tanta a devoção que os desta terra têm ao nosso Seráfico Padre S. Francisco e a seus filhos que, saindo eles a pedir esmola para ajuda da restauração daquele convento, lhes [deram] em poucos dias seis mil taéis que são doze mil xerafins, e isto com muita vontade oferecendo-se para tudo o mais que fosse necessário. Afora alguns devotos mais particulares, que se quiseram avantajar em esta tão santa obra, dos quais um que é o síndico, tomou à sua conta a capela-mor para a pôr no mesmo estado e perfeição em que estava, e outro tomou o altar de Jesus, e outro o da Conceição com as imagens da Senhora e São José e todo o paramento do altar e outro tomou à sua conta o retábulo do nosso Padre S. Francisco, e outro depois de mandar trezentas patacas de esmola prometeu mais mil indo o seu navio a Manila, e outro deu quinhentas patacas na primeira viagem que fizesse, e a cidade prometeu de dar dois e mais por cento nas viagens de Japão e Manila. De sorte que hoje [1630-1636] está a igreja e o convento acabado com mais e maior perfeição do que antes estava, o que tudo seja para glória de Deus e louvor do seu servo fiel, o nosso Padre S. Francisco."
Desenho de autor desconhecido com a legenda "Franciscan church, Macao". Data provável: 1831
Reunido em sessão a 5 de Fevereiro de 1842 o Leal Senado pronunciou-se contra a ideia de demolir o Convento e Igreja de S. Francisco. A ideia era do governador Adrião Acácio da Silveira Pinto que ali pretendia construir um palacete residencial que tinha contígua a ela o «Campo Santo de Pública Devoção».
Alguns anos mais tarde, em Março de 1861, o governador Coelho do Amaral com autorização do Ministério da Marinha e Ultramar mandou demolir o Convento de S. Francisco e no seu lugar foi erguido o quartel para o Batalhão de Macau (Forte de S. Francisco) finalizado em 1866.
Desenho de Chinnery. ca. 1830