sábado, 3 de março de 2018

A aclamação del Rei D. João IV em Macau


A aclamação del Rei D. João IV em Macau, da autoria de  Frazão de Vasconcelos (1889-1970), editado em Lisboa pela Agência Geral das Colónias em 1929. 

A 20 de Junho de 1642 foram jurados e solenemente aclamados com pompa e festa de dois dias, em Macau, El-Rei D. João IV e o Príncipe D. Teodósio, seu herdeiro presuntivo. Era Capitão-Geral da praça D. Sebastião Lobo da Silveira, em cujo governo, de 1638 a 1645, terminou o comércio com o Japão, tendo a missão enviada para esse país para consegui o seu restabelecimento sido quase toda exterminada.
Excerto do livro:
"A aclamação de D. João IV em Macau revestia uma importância grandíssima, mercê de circunstâncias extraordinárias, de ordem material e moral. De Manilha, onde tinham sua principal base, podiam os castelhanos intentar uma surpresa contra Macau se a notícia da aclamação chegasse primeiro ao seu conhecimento que ao dos portugueses.
A perda de Macau representava para Portugal a perda do comércio da China e a de grande esperança do restabelecimento das relações com o Japão . Sem o comércio da China, afirmava em 1642 o Padre Cardim a el Rei D. João IV, não havia Índia rica. E não era sómente isto. Havia ainda a ter em conta que os portugueses de Macau iam todos os anos a Manilha levar fazendas que importavam em mais de dois milhões de atroe que se o aviso da aclamação chegasse depois dêles se encontrarem em Manilha se comprometeria grandemente a situação de Macau. Foi o que logo ponderou ao Vice-Rei da Índia o Padre António Francisco Cardim, Procurador Geral da Companhia de Jesus na Província do Japão, então assistente em Goa, e que em 1642 se encontrava já em Lisboa, onde dirigiu ao Rei, sôbre o assunto, o memorial que publicamos, até agora inédito.
Na côrte de Lisboa o caso não foi igualmente descurado, tendo-se tomado a resolução de enviar a Macau, com tôda a possível urgência, António Fialho de Ferreira,* que aqui se encontrava esperando socorros para o Estado da Índia que em nome do Vice Rei Pedro da Silva viera requerer. No espiritual, com Macau, perder-se-iam a cristandade do Tonquim, a melhor do Oriente, onde se baptizavam por ano dez a dôze mil almas, e as da Cochinchina, de Camboja, de Sião, etc.A aclamação de D- João IV naquela nossa mais longínqua colónia não foi , pois um facto sem significado e sem interêsse. Bem pelo contrário.” 
Macau em meados do século XVII: ilustração reproduzida no livro
*António Fialho Ferreira nasceu em Sesimbra nos fins do século XVI. Não se sabe quando se fixou em Macau mas já nela vivia em 1624, como mercador. Casou com Catarina Cerqueira, macaense, filha de Jorge Cerqueira (natural de Lamego) e de Maria Pires natural de Macau.Foi escrivão da Santa Casa da Misericórdia em Macau em 1628 e 1629. Entre 1630 e 1633, período em que foi concedido a Lopo Sarmento de Carvalho o monopólio das viagens do Japão e Manila, foi Capitão Mor da viagem Macau Manila.
Por causa de uma grave discórdia entre o povo e os ministros do Rei ausentou-se de Macau no ano de 1637, dirigindo-se por terra, à Índia. O Vice-Rei Pedro da Silva conhecendo a capacidade do seu talento mandou-o representar a el Rei de Castela e Portugal (em Madrid; 1580 – 1640 dinastia filipina) o miserável estado a que estava reduzida a Índia. Por terra, chegou a Roma onde se encontrou com o Embaixador de Castela e depois via Valença chegou a Madrid onde ” representou a el Rei a causa que o obrigara para empreender jornada tão dilatada que perigosa”
Foi logo mandado a Lisboa para que aprestassem seis naus que socorressem a Índia. Encontrava-se em Lisboa quando se deu a aclamação de D. João (1 de Dezembro de 1640) como Rei tendo logo António Fialho Ferreira jurado fidelidade ao novo rei português. Foi-lhe dado a incumbência de seguir com urgência para Macau onde logo que chegou, em 31 de Maio de 1942, convocou as pessoas principais do estado eclesiástico e seculares, lhes expôs em uma elegante oração a feliz notícia de estar exaltado ao trono de Portugal, o Senhor D. João, o IV a quem deviam reconhecer por seu Rei e Senhor.

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